MEMBRA EFETIVA
Dayse Marinho Martins
filha de Humberto Nunes Martins e de Vasti dos Santos Marinho Martins, ambos professores do Ensino Fundamental na Rede Estadual de Ensino do Maranhão. Tenho 39 anos, sou natural de Penalva, na Baixada Ocidental Maranhense. A cidade de Penalva surge com a missão de São José do Cajari com índios gamelas no Sítio São Braz, durante o início do século XVIII. Em 1785, passa a se denominar São José de Penalva, foi elevada a Vila em 1871, e emancipada como município em 1910. Situada a 258 Km, com percurso de 3 horas e 30 minutos, da capital, a sua estrutura geológica é do Pleistoceno constituída de terreno marcado por depressão com inundações período chuvoso, planícies aluviais e os lagos Cajari, Formoso, Lontra e Capivari. A cidade possui baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a população vive da subsistência pela agricultura tradicional, da pesca, da criação de animais e do extrativismo vegetal, principalmente, do coco do babaçu.
Com a proveniência de uma família de baixa renda, sou a mais velha de dois irmãos e sempre compartilhei da ampla rotina de trabalho de meus pais como professores, a partir da qual obtive o estímulo para buscar na escola, oportunidade de crescimento formativo e social. Meu pai inicialmente alfaiate, somente com o primário e aprendiz com mestre artífice, cursou o ginásio e o Magistério por volta dos 40 anos. Minha mãe, com a perda de seu pai aos 10 anos de idade, filha de pescadora da zona rural de Penalva, foi criada por sua madrinha, dona do Cartório. Trabalhou por muito tempo no cotidiano cartorial e iniciou a docência na escola de Magistério fundada por sua madrinha, a Srª Derze Barros na década de 1970. O Colégio São José de Penalva surge diante da ausência desse espaço formativo naquele município que exigia o deslocamento de poucas pessoas de posse para cursar o Normal em São Luís e retornar para lecionar nos grupos escolares.
Em meio a essa conjuntura, nasci em 1983, pela união de meus pais, inicialmente não aceita na comunidade. Meu pai se separou da primeira esposa para conviver maritalmente com minha mãe. Muitas pessoas lhes fecharam as portas, mas ambos se dedicaram a partir de então, a lecionar no curso Normal e deram início à nossa família. Nesse contexto, para que eu e meu irmão fossemos batizados, foi necessária a intervenção da madrinha de minha mãe para convencer o pároco a aceitar o nosso batismo sem que fossemos filhos naturais.
Embora diante dessas resistências, iniciei a vida escolar em 1987 aos 4 anos no 1º período do Jardim de Infância Caldas Marques. Cheguei à escola já alfabetizada por minha mãe e diante dos avanços em relação ao restante da turma, fui transposta aos 5 anos para o 3º período em 1985 e iniciei a antiga 1ª série com 6 anos em 1986, na Unidade Escolar Dr. José Joaquim Marques.
Meu curso no antigo primário, ocorreu em meio ao período no qual a madrinha de minha mãe que considero como minha avó, foi prefeita da cidade de Penalva. Em seu mandato, minha mãe foi Secretária Adjunta de Educação e continuava a lecionar no Magistério. Ainda assim, a minha infância não se deu em meio a luxos, mas às lutas de meus pais no professorado para garantir que eu tivesse acesso a letramento
e estudo. Sempre em sua jornada de três turnos de trabalho, estive presente, pois muitas vezes, ambos precisavam me levar para as suas escolas quando não tinha quem ficasse comigo e o meu irmão, inclusive, durante a noite. Lembro que no Ginásio Celso Magalhães onde meu pai era secretário escolar, sempre estava no ambiente da secretaria e aos 9 anos ajudava a fazer o livro de ponto pois meu pai sempre primou para que eu tivesse boa caligrafia.
Aos 10 anos ingressei na 5ª série do antigo Ginásio, na recém-inaugurada Unidade Escolar Sabino Barros que teve como patrono o pai da madrinha de minha mãe, que havia ajudado a criá-la. A nova escola da cidade foi construída no Bairro do Catumbi, em que residiam famílias afrodescendentes. Tradicionalmente, os filhos de professores e comerciantes eram matriculados na Unidade Escolar Tancredo Neves do antigo sistema CEMA. À época, a opção de meus pais de me matricular na nova escola se deu por ingressarem como professores da rede estadual no concurso público promovido pelo Governo de Edson Lobão após a promulgação da Constituição Federal que remodelava as formas de acesso ao setor público.
Ainda assim, cursei o referido período, tendo meu pai como meu professor de Matemática e minha mãe como minha professora de Língua Portuguesa. Obtive aprendizados de sociabilidade nessa etapa, onde se iniciou minha adolescência. O destaque maior se deu na 7ª série em 1995 quando participei do Concurso de Redação da Marinha do Brasil, denominado “Operação Cisne Branco”’.
Na ocasião escrevi redação sobre a vida e a obra do Almirante Tamandaré em que fui agraciada com diploma de honra ao mérito no âmbito da escola e medalha de 1º lugar no Estado do Maranhão. Lembro-me da imensa satisfação de junto ao meu pai, vir a São Luís receber a premiação e ser saudada na chegada pela conquista trazida à cidade.
Em 1997, iniciei o 2º grau, atual Ensino Médio. Cursei a modalidade Normal, isto é, a Formação para o Magistério. Não havia na cidade, escola desse nível de ensino, sendo a escola normal de minha avó, a única opção. Assim, em meio às descobertas da adolescência, ao baile de 15 anos, ao encontro com o primeiro namorado, realizei os estudos e me tornei normalista em 1999.
Toda essa trajetória foi permeada pelo planejamento de meus pais no que se refere a me possibilitar a continuidade dos estudos após o 2º grau com o sonho de cursar o nível superior. Para tanto, diferente da opção de muitas famílias penalvenses, os meus pais não queriam me encaminhar para São Luís a fim de morar em casa de parentes. Tinham como propósito, vir para a capital me acompanhando a fim de dar suporte e acolhimento nesse processo. Deixaram, portanto, toda uma conjuntura profissional estabilizada para recomeçar as suas atuações em outro contexto. Assim, em março de 2000, deixamos a cidade de Penalva e viemos para São Luís onde passamos a residir no bairro do Anil. Meus pais solicitaram remoção de suas matrículas como professores da rede estadual, e foram lotados no propalado Centro Integrado do Rio Anil – CINTRA.
O bairro do Anil é um dos mais antigos da cidade, conhecida mundialmente, pelas belezas arquitetônicas de origem portuguesa e pela ampla cultura popular. O Anil é marcadamente composto por famílias de classe popular se constituiu historicamente às margens do Rio Anil, assim intitulado devido suas águas de
coloração azulada pela grande quantidade de plantas de anil em suas margens. As vivências se dão no entorno do prédio da antiga Fábrica do Rio Anil, revitalizada como CINTRA, escola da rede estadual de ensino, atual Unidade Plena Rio Anil do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IEMA.
Nessa conjuntura, iniciei os estudos no cursinho a fim de realizar o vestibular para as Universidades Federal e Estadual do Maranhão. A opção pelo curso foi realizada mediante as experiências no 2º grau de Formação para o Magistério: seria a Pedagogia. Os primeiros dias de estudo foram impactantes: deparei-me com a Matemática que eu não havia estudado de forma aprofundada no curso Normal. Paralelamente, adaptações pela mudança, com o aumento dos gastos familiares, o contato com o novo tornava tudo inseguro e desafiador.
Decidi prestar o vestibular na UFMA e na UEMA para Pedagogia: eram duas chances a aproveitar. Na divulgação da primeira etapa da UFMA, alcancei a 15ª colocação de 30 vagas. Realizei a 2ª etapa, tive a grata surpresa de ser aprovada em 1º lugar. O episódio ficou marcado na memória, pois, quando criança ouvia na rádio AM a divulgação dos resultados e sempre falava que passaria em 1º lugar. A realidade embora difícil permitiu o alcance desse sonho: ser a primeira pessoa de minha família a cursar a Universidade e ainda, com a 1ª colocação no vestibular. Ao mesmo tempo, os resultados da UEMA evidenciaram a minha aprovação para o curso de Pedagogia Magistério.
Dessa forma, comecei a cursar as duas graduações Pedagogia: UFMA vespertino e Pedagogia Magistério UEMA noturno. A primeira para formação de técnico educacional, a segunda para docência. Contudo, as reformulações das diretrizes nacionais do curso de Pedagogia pelo Ministério da Educação (MEC) culminaram em reestruturação curricular e ambos os cursos agregaram a habilitação para docência e técnica educacional. Não fazia mais sentido, portanto, cursar as duas formações. Tal fato me direcionou em 2002, ao processo de transferência interna na UEMA, em cuja oportunidade optei pelo curso de História.
Mais uma vez, fui desafiada, pois a disputa era para 1 vaga, com 10 candidatos inscritos. Precisei realizar 8 redações sobre temas de História. Foi um processo difícil, mas recompensador quando recebi o resultado da 1ª colocação que me possibilitou o acesso à única vaga e meu encontro com Clio. A partir de então, continuei com a Pedagogia UFMA no vespertino e a História UEMA no matutino.
Todavia, os caminhos por mim percorridos nunca foram retos e no segundo semestre de 2002, como normalista, fui aprovada aos 19 anos no concurso da Prefeitura de São Luís para o cargo de professora de séries iniciais. Assim, iniciei a trajetória profissional na docência realizando paralelamente, a formação superior. Paguei o preço de não poder ser incluída em projetos de pesquisa por ter vínculo empregatício, mas, tornei a minha formação enriquecida pela correlação com a prática profissional. Assim, não realizei atividades formais de pesquisa junto a órgãos de fomento, mas sempre atuei como voluntária e desenvolvi monitoria na disciplina Projeto Educativo participando ainda, das atividades de extensão do projeto escola-laboratório na UFMA.
Na oportunidade, fui lotada na UEB Darcy Ribeiro, localizada no Sacavém onde fui professora alfabetizadora durante 7 anos. Nela, desenvolvi a pesquisa que culminou com o trabalho monográfico “A, B, C… HQ”: as histórias em quadrinhos no trabalho com leitura, uma experiência desenvolvida em séries iniciais do Ensino Fundamental. A proposta realizou pesquisa experimental de alfabetização de crianças de 6 anos com histórias em quadrinhos em substituição à cartilha. Diante disso, finalizei a graduação em Pedagogia no ano de 2005, sendo habilitada para Docência em Séries Iniciais, Educação Infantil e Gestão Escolar.
Com a primeira graduação concluída, fui aprovada em 2006 no concurso público para Supervisor Escolar do Governo do Maranhão, sendo lotada na U.I. Padre Antonio Vieira. Lá desenvolvi ações de educação patrimonial sob o formato da Pedagogia de Projetos, com destaque para o Ano Vieirino e abordagem da atuação de Padre Antonio Vieira no contexto do Maranhão Colonial.
Em 2008, concluí a Graduação em História na qual obtive contato maior com a prática de pesquisa. Transferi o curso do matutino para o noturno e direcionei meu interesse pela pesquisa em História do Maranhão Colonial envolvendo práticas educativas dos missionários capuchinhos que acompanhavam os franceses nas primeiras incursões ao Maranhão. Desse estudo surgiu o trabalho monográfico “DAS TREVAS DA IGNORÂNCIA À CIVILIZAÇÃO”: os Capuchinhos e a educação pela fé na França Equinocial (1612 – 1615). Na ocasião pude contar com o valiosíssimo trabalho de orientação da Profª Lourdes Lacroix. A pesquisa possibilitou a ampliação do ideário sobre história da educação voltada para objetos que não caracterizavam ensino escolar. O estudo focou o caráter pedagógico das práticas missionárias entre os Tupinambá ainda que não houvessem ambientes escolares devido ao pouco tempo da presença francesa em Upaon-Açu. A graduação em História ampliou o leque de oportunidades de pesquisas e abordagens sobre temas de interesse em Medieval, Maranhão, Educação, Ensino e metodologia, sempre articulando de forma interdisciplinar os saberes acadêmicos.
Em seguida, no ano de 2009, passei a atuar como supervisora também, na rede municipal de ensino. Meu trabalho foi desenvolvido na UEB Olívio Castelo Branco com turmas de creche e pré-escola onde permaneci até 2014. Sob o formato da metodologia de projetos, abordei questões da história e cultura local com tambor de crioula na creche e alfabetização com bumba-meu-boi.
Ainda em 2009, migrei na rede estadual para o ensino noturno do CINTRA, supervisionando 32 turmas de EJA e Ensino Médio. Em 2011, fui designada Gestora da Coordenação de Ensino Noturno, onde atuei até fevereiro de 2019.
Nessa etapa de minha trajetória, me dediquei durante 3 anos, ao trabalho nas instituições educacionais em que atuava. No âmbito acadêmico, realizei minhas três primeiras especializações: Psicopedagogia, História do Brasil e Educação Infantil, todas em busca de enriquecimento teórico para ampliação da atuação docente. Além disso, cursei a Graduação em Filosofia na primeira turma ofertada pela UEMA.
Então, em 2012, decidi realizar estudos na Pós-graduação Stricto Sensu e ingressei no Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA). Em novembro de 2014, concluí o curso com a pesquisa intitulada Currículo e historicidade: a disciplina História do Maranhão no sistema público estadual de ensino (1902 – 2013). O trabalho possibilitou traçar o panorama da disciplina História do Maranhão e os conhecimentos sobre História e cultura maranhense, contribuindo de forma significativa para os estudos em história da educação no Maranhão por meio de uma abordagem inovadora centrada na interdisciplinaridade entre Pedagogia e História. Caracterizou o trabalho pioneiro na abordagem histórica da disciplina em âmbito regional.
Ainda em 2014, finalizei a graduação em Filosofia. O trabalho monográfico versou sobre “A Filosofia dos capuchinhos na educação pela fé da França Equinocial 1612-1615”. Caracterizou, portanto, o aprofundamento das pesquisas realizadas em História com o debate sobre os princípios filosóficos que nortearam a missão capuchinha em Upaon-Açu.
Em virtude da pesquisa para dissertação e no sentido de perceber os impactos do ENEM no ensino de História do Maranhão, realizei o exame, obtendo nota e ingressando no curso de Psicologia da UFMA em 2015, cursando assim, minha quarta graduação.
No mesmo ano, fui aprovada em 1º lugar na seleção para o Doutorado em Políticas Públicas, conceito 6 na avaliação da CAPES. O curso possibilitou a ampliação de minhas experiências e pesquisas voltadas para a análise das relações entre educação, políticas públicas e currículo. Em termos profissionais, permitiu o aprofundamento na compreensão sobre a inter-relação Estado, Sociedade e Educação e ainda, a formação stricto sensu necessária ao desenvolvimento da carreira docente no Ensino Superior.
O Doutorado em Políticas Públicas permitiu a atualização das capacidades técnica, política e ética para atuar na elaboração e análise de políticas públicas educacionais, tendo como referências as peculiaridades desse campo de atuação e as atuais tendências educacionais, sociais e políticas. Através dos estudos desenvolvidos, a referida iniciativa possibilitou a compreensão das diferentes perspectivas teóricas sobre o papel do Estado na sociedade e na educação, a partir de uma contextualização histórico-política.
A tese intitulada “As repercussões do ENEM no currículo do Ensino Médio das escolas estaduais em São Luís – MA: o caso do CINTRA” contou com a orientação da renomada Profª Maria Ozanira da Silva e Silva que se destaca nacionalmente pelas produções no campo das políticas sociais. Assim, objetivou ampliar as investigações científicas sobre as políticas educacionais e o currículo do Ensino Médio ressaltando a contradição entre a proposta dos documentos e a prática do currículo centrado no ENEM. A pesquisa apontou as possibilidades de se estabelecer um diálogo entre as políticas públicas educacionais, o planejamento dos professores e a realidade escolar valorizando a formação discente crítica e não apenas restrita à realização de exames. Conceber a dinâmica curricular nesse enfoque permite superar a tendência homogeneizadora e acrítica que impregna as práticas curriculares no sistema
educacional brasileiro.
Continuamente, realizei diversos cursos de Especialização no campo das Ciências Humanas e Sociais, contemplando temáticas envolvidas com as pesquisas em desenvolvimento e articuladas à minha atuação profissional. Atualmente, são 15 concluídos e 12 em andamento, destes alguns em finalização.
Do mesmo modo, continuei a atuar profissionalmente no Ensino Noturno, tendo sido afastada para estudos somente na rede municipal. No contexto do Ensino Noturno, tive oportunidade de participar de momentos formativos e cursos de aperfeiçoamento. Por meio dos estudos desenvolvidos, busquei a compreensão das diferentes perspectivas teóricas sobre o ensino com adultos, a Andragogia, na sociedade, a partir da contextualização histórico-política e do aspecto pedagógico na formação da cidadania. Além disso, a contextualização da realidade educacional brasileira forneceu subsídios para a percepção do papel das políticas educacionais no Brasil contemporâneo.
Coincide com o final do Doutorado em Políticas Públicas em março de 2019, minha saída do Ensino Noturno do CINTRA. Nessa conjuntura, ingressei no meu segundo Doutorado pela UFMA, desta vez, em História e Conexões Atlânticas: culturas e poderes, no qual realizo a pesquisa “A CIDADE DOS LAGOS: narrativas ancestrais sobre as estearias no município de Penalva – MA (1909-2019)”, com previsão de término para 2022.
A pesquisa tem como objeto, as narrativas fantásticas da população de Penalva – MA sobre as estearias: ruínas arqueológicas de palafitas, habitações précolombianas construídas em áreas alagadiças próximas às margens ou no meio de rios ou lagos. O estudo se propõe a compreender as narrativas ancestrais da população sobre as estearias, apesar da divulgação de estudos que comprovam o caráter arqueológico dos esteios e sua relevância enquanto patrimônio histórico e cultural. O repasse das narrativas populares entre as gerações, pela via da tradição oral requer uma análise que problematize seus processos interpretativos de elaboração. Enquanto diferencial, a proposta inter-relaciona História e Arqueologia no propósito de analisar as representações populares acerca da cultura material. Busca-se, desse modo, compreender as necessidades da população em constituir interpretações ancestrais sobre as estearias, ampliando as produções sobre Arqueologia no Maranhão.
O interesse pela temática surgiu como oportunidade de colaborar com a compreensão histórica de aspectos identitários locais, enquanto natural do município de Penalva. A pesquisa se propõe a ampliar as investigações acerca das estearias ao enfocar as narrativas ancestrais, na perspectiva de desvencilhar os aspectos que compõem seus processos de elaboração. Portanto, enriquecerá o quadro da atual historiografia maranhense na medida em que contribui para a compreensão de representações da população penalvense sobre as estearias, evidenciando o olhar sobre uma História “vista de baixo”.
Nesse mesmo período, no início de 2020, finalizei a graduação em Psicologia com o trabalho intitulado “UMA FENOMENOLOGIA DA ESCUTA COM PESSOAS QUE SE AUTOLESIONAM NA CLÍNICA EM PSICOLOGIA DO NPA/UFMA”.
O estudo contemplou a escuta em psicoterapia com pessoas que se autolesionam, tendo como campo intencional de pesquisa, o Núcleo de Psicologia Aplicada da Universidade Federal do Maranhão (NPA/ UFMA). Para tanto, objetivou apresentar uma abordagem humanizada na escuta de pessoas que se autolesionam, ressignificando a compreensão sobre autolesão na Psicologia Clínica. O estudo se fundamentou na Fenomenologia de Edmund Husserl com base nos conceitos de mundo-da-vida, corporeidade, entropatia e intersubjetividade.
O curso foi marcado por enriquecimento cultural de uma proposta formativa que proporcionou meu amadurecimento não apenas profissional no campo da Psicologia, mas no campo pessoal, suscitando descobertas, angústias e reflexões, assim como a abertura à percepção de minhas possibilidades na relação com o mundo da vida.
A partir de então, atuo desde março de 2020, como psicóloga clínica CRP 22/03627, de abordagem fenomenológica. Possuo ampla atuação pela formação interdisciplinar, atendendo principalmente crianças e adultos na perspectiva da saúde mental.
Atualmente, desenvolvo atividades profissionais como Especialista em Educação da Diretoria Adjunta Pedagógica do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA). Nele, estou lotada desde janeiro de 2020.
Desde então, realizo atividade de consultoria e acompanhamento de projetos e ações na política educacional de ensino integral técnico do instituto. Tem configurado uma experiência nova que enriquece o olhar ao contemplar a atuação no eixo de formulação das políticas públicas em Ensino Médio, para além da implementação tão comum à atividade enquanto gestora ou docente da Educação Básica.
A educação integral prima pelo ensino de excelência tendo em vista sua função social de ampliação formativa dos estudantes, abordando com rigor, a complexidade do conhecimento. O currículo do IEMA, portanto, caracteriza elemento basilar do fomento ao protagonismo estudantil na construção de uma nova concepção de mundo, de forma autônoma.
Nessa perspectiva, o IEMA vem promovendo no Maranhão, educação profissional, científica e tecnológica de forma gratuita, inovadora e de qualidade, visando a formação integral dos estudantes para atuarem na sociedade de maneira solidária e competente. Tornou-se assim, referência de política educacional para aumento dos índices de desenvolvimento humano no Maranhão.
Em 2021, passei a coordenar o Programa de Cursos Técnicos de Pós-médio, destinado ao aperfeiçoamento profissional de egressos de formação técnica em nível médio. Além disso, atuo em ações de formação continuada em serviço, saúde ocupacional, bem como, no fomento à produção acadêmica pelos professores do instituto.
Assim, fazer parte do IEMA tem ampliado minhas possibilidades de atuação no campo da inovação e do fazer científico com orientação de propostas e pesquisas que contemplem o contexto maranhense no âmbito da robótica, da pesquisa na Educação Básica, das práticas experimentais e estudos em currículo e ensino notadamente em História. De tal forma, propicia a participação em ações de ampliação das oportunidades educacionais e aumento dos índices de desenvolvimento humano no Maranhão.
A partir da atuação no IEMA, em 2020, fui credenciada como Docente externa permanente do Programa de Pós-graduação em Psicologia em nível de Mestrado da UFMA na Linha de Pesquisa Avaliação e Clínica Psicológica com estudos sobre Fenomenologia da clínica com orientação husserliana; fenômenos clínicos psicopatológicos e corpo no mundo da vida contemporâneo além da abordagem de Clínica social e políticas públicas. O processo caracterizou conquista singular em minha trajetória profissional, representou a entrada no universo do Ensino Superior e de forma significativa, na Pós-graduação. Nesse contexto, desenvolvo estudos junto ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Fenomenologia e Psicologia Fenomenológica – GEPFPF/ UFMA.
Articulando-me entre Clio e Psiquê, assumi também em 2020, a coordenação do grupo de trabalho (GT) Ensino de História e Educação que tem como proposta integrar e fortalecer o coletivo dos docentes e pesquisadores de História da ANPUHMA em suas diferentes realidades de trabalho, além de fomentar estudos de caráter interdisciplinar que tenham como foco as áreas do conhecimento correlatas ao Ensino de História e à Educação. O intuito do GT é enfatizar a necessidade de produção de conhecimento e o compartilhamento de saberes entre aqueles que se dedicam à reflexão e à prática da pesquisa e Ensino de História no Maranhão, do Ensino Básico ao Superior. Já em 2021, fui contemplada como coordenadora do GT com a aprovação de dossiê sobre Ensino de História na renomada Revista Outros Tempos do Curso de História da UEMA. Um fato relevante: uma professora da Educação Básica conseguir submeter e aprovar dossiê em revista acadêmica.
Na seara de Clio, em meus estudos sobre Arqueologia no Doutorado em História, sou vinculada aos Grupo de História, Religião e Cultura Material – REHCULT/PPGHIS/ UFMA. Além disso, atuo no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de História (NEPEHIS), relacionado à abordagem do Ensino de História, Narrativas, Teorias e Metodologias bem como, Currículo e Formação Docente.
A minha atuação se estende ainda como consultora ad hoc da Revista de Políticas Públicas da UFMA, Membro de corpo editorial da Editora Mnemosine e Revisora de projetos e consultora ad hoc da Fundação de Amparo à Pesquisa ao desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA).
Nesse contexto, tenho ampliado a cada ano a publicação de produções nos campos da Educação, Cultura, História, Filosofia, Psicologia, Sociologia, Geografia e Políticas Públicas. Assim, participo de eventos e publico trabalhos com ênfase em currículo, ensino-aprendizagem, história da educação, história do Maranhão, políticas públicas na educação, psicologia infantil, psicologia clínica, saúde mental, arqueologia lacustre maranhense e educação patrimonial.
Em termos acadêmicos, paralelo ao Doutorado em andamento na área da História, estou em fase de finalização das graduações em Sociologia e Geografia, as quais realizo em instituições privadas, na modalidade de segunda Licenciatura. Com isso, busco subsidiar as análises das pesquisas que desenvolvo no momento, além de ampliar o olhar científico no âmbito das humanidades.
Tomando como pressuposto a trajetória supracitada, apresento minha candidatura à Academia Maranhense de Ciências. A proposição se justifica pelo ingresso na instituição, representar oportunidade ímpar de fomento à prática científica no contexto educacional maranhense. Como professora da Educação Básica, representa condição potencial para inspirar atuações docentes que se dediquem ao desenvolvimento da iniciação científica na escola básica.
Assim, no desenvolvimento de atividades técnico-científicas, contribuirei para o fomento da ciência como competência de abordagem do conhecimento na realidade aliada à reflexão e resolução de problemas. Como propalou Paulo Freire “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. A educação na contemporaneidade remete à ressignificação de modelos de ensino, superando a acumulação de saberes
pela busca do conhecimento por meio da investigação.
Dessa forma, minhas contribuições no campo científico em produções e articulações com o currículo e o ensino primam pela inserção da prática de pesquisa na Educação Básica, subsidiando na formação de professores e escolarização dos estudantes, o diálogo em busca de um senso crítico da realidade. O ingresso na AMC permitirá dar visibilidade aos estudos realizados nos grupos de pesquisa e espaços educacionais nos quais atuo.
Em atenção à minha trajetória interdisciplinar no âmbito da área XV que contempla as Ciências Humanas, conforme edital para admissão de membro acadêmico efetivo da AMC, me candidato à Cadeira Nº.16 patroneada por Rosa Mochel Martins, ícone dos estudos em Geografia do Maranhão no século XX cuja trajetória abordei em minha dissertação de mestrado. Diante desse panorama, minha participação na AMC, no campo das pesquisas em Ciências Humanas, especialmente no Maranhão representada brilhantemente por Rosa Mochel, se propõe a contribuir para o crescimento dos estudos relativos ao Maranhão.
Considero que poderei agregar contribuições à AMC por apresentar um currículo interdisciplinar, o qual tem contribuído no campo das humanidades e para a educação no Estado do Maranhão, desde o início dos anos 2000, notadamente, nas áreas da Pedagogia e do Ensino de História e recentemente, na Psicologia. Destarte, considero cumprir os requisitos para compor o rol de membros da Academia Maranhense de Ciências (AMC), representando nessa oportunidade avanço significativo no fortalecimento da presença feminina nos espaços acadêmicos-científicos.
Patrono: Padre Claude D´Abbeville.