Caxiense faleceu em 28 de novembro, há 88 anos

COELHO NETTO

O 28 de novembro marca a morte, em 1934, do escritor e jornalista maranhense Coelho Netto, conhecido, entre outras coisas, por ser o responsável pela popularização do título de “Cidade Maravilhosa”, dado ao Rio de Janeiro.

Entre as outras coisas, Coelho Netto foi eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”;

…foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel, representando Brasil e Portugal;

…foi o introdutor do cinema seriado (hoje, que deu origem às séries e novelas) no Brasil, tendo sido autor do roteiro e diretor do filme que fez nesse gênero, no Rio de Janeiro.

Capoeirista de primeira, foi ainda responsável pela elevação da capoeira a um “status” de dignidade, como esporte, arte, dança, técnica, luta.

Seu filho João Coelho Netto, apelidado “Preguinho”, atleta campeão em diversas modalidades, do futebol à natação, foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira em Copa do Mundo — contra a Tchecoslováquia, na época.

E outros registros pioneiros mais enriquecem a vida e obra do fenomenal caxiense.

Dele disse o ex-ministro do exterior, advogado, escritor e diplomata João Neves da Fontoura, em discurso na Academia Brasileira de Letras, em 1937: “ — Não houve melhor brasileiro do que Coelho Netto”.

Quando se casou, em 24 de julho de 1890, o padrinho foi o presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca. Os escritores Machado de Assis, José do Patrocínio e Olavo Bilac, entre outros, eram nomes ilustres que estiveram presentes ao casamento.

Nascido em 21 de fevereiro de 1864, em Caxias (MA), o romancista Coelho Netto alcançou em vida glórias que o pós-morte não sustentou…

Coelho Netto faleceu em 28 de novembro de 1934, no Rio de Janeiro, três anos depois da morte de sua esposa, Dª Gaby. A ausência da mulher “aniquilou-o completamente, tornando-o indiferente a tudo”, diz seu filho, Paulo Coelho Netto, autor de um estudo magistral sobre o próprio pai, intitulado “Imagem de Uma Vida”. Também a filha Zita Coelho Netto escreveu um pequeno livro, em 1964, centenário de nascimento de seu pai: “Coelho Netto – Meu Pai e Grande Amigo”, que consta de meu acervo, autografado e com dedicatória a terceira pessoa.

Coelho Netto, segundo relaciona seu filho Paulo, escreveu e publicou 130 livros. As cerca de 8.000 crônicas que publicou em jornais e revistas daria para outros 200 volumes. Outros 100 livros poderiam ser feitos com o material de suas improvisações. Teve semana de, em São Luís, pronunciar 64 discursos; e, em São Paulo, em 1921, na cidade boiadeira de Barretos, o maranhense improvisou 31 discursos e uma conferência no espaço de 60 horas.

O homem era polígrafo, escrevia de tudo, sobre tudo, no ABC da literatura: apólogo, comédia, conferência, conto, discurso, drama, fábula, história, novela, pastoral, poesia, romance.

Tinha ano de publicar 11 livros, quase um por mês! E foi pai de 14 filhos, dos quais oito viu morrer, além da esposa.

Paulo Coelho Netto, filho que, pelo que escrevia, devia lhe devotar verdadeira adoração, calcula que Coelho Netto escreveu cerca de 21.000 páginas e poderia ter chegado a algo entre 75.000 e 80.000 páginas.

De Coelho Netto disse um dia Humberto de Campos, outro grande escritor maranhense:

“ — O senhor Coelho Netto não é um autor; é uma Literatura”.

Tanto que, em 43 anos de produção, de 1891 a 1934, foi publicado um total ao redor de 600.000 volumes das obras de Coelho Netto, ou cerca de 14.000 volumes por ano, no cálculo do filho Paulo. É como se todo santo dia, incluindo-se sábados, domingos e feriados, perto de 40 exemplares de livros de Coelho Netto saíssem da gráfica, durante 43 anos!

Contagens feitas a partir de seus textos apontam-no como o escritor de mais rico vocabulário. Lembro-me de que li em algum lugar que, enquanto o comum dos mortais nasce, vive e morre utilizando 2.000 a 4.000 palavras, Coelho Netto já teria chegado às 20.000.

Esse seu estilo rico — Brito Broca anota: “opulento e luxuriante” — contribuiu para uma das piores campanhas de degradação a um intelectual brasileiro ainda em vida. Isso tudo e mais a morte da mulher foram desanimando o espírito e afinando o corpo do “Último dos Helenos” (como Netto se autodenominou). Ao morrer, não pesava mais do que 40 quilos. Como sempre, em relação a um grande escritor, sua obra, com certeza, pesava mais.

É desse gigante da Literatura Brasileira, ainda por ressuscitar, que uma amiga minha, advogada, mestra em Literatura, escritora, dramaturga, pesquisadora, moradora no Rio de Janeiro, estava a procurar-lhe os herdeiros, para tratar de assuntos relacionados a direitos autorais, de vez que a obra de Coelho Netto, em termos legais, ainda não havia passado ao domínio público.

Sabendo-me conterrâneo caxiense de Coelho Netto, pediu-me, em 2012, em Maricá (RJ), ajuda para saber de um herdeiro, parente, familiar ou equivalente, com quem pudesse tratar sobre uma possível autorização para inclusão de um poema do maranhense em uma obra de referência que abarcaria os 500 anos da poesia brasileira.

À primeira vista, parecia-me simples. Recomendei a ela que procurasse a Nova Fronteira, editora que comprou o editora José Aguillar (ou Nova Aguillar), que publicara em 1958 uma seleta da farta obra coelho-nettiana. Com certeza, na editora teriam as pessoas de contato. Mas a editora disse não ter os direitos autorais dos poetas que publicou. Segundo a editora, o poeta Manoel Bandeira era quem cuidava disso.

Não desisti, e menos de uma semana depois tentei com diversas pessoas. Em todas elas o desconhecimento em relação aos herdeiros e familiares de Coelho Netto.

Portanto, há 20 anos, em 2002, assumi essa incumbência de uma amiga escritora e autora de novelas do Rio que, sabendo-me maranhense e, mais ainda, da cidade do grande escritor (Caxias), pediu-me para pesquisar e localizar algum descendente de Coelho Netto, para fins de direitos autorais.

Sobre essa busca a Coelho Netto escrevi na época texto, posteriormente publicado, sobre minha “caçada” aos herdeiros do notável escritor maranhense. Terminei localizando-os e mantendo contato com um deles, do qual extraí muitas informações, que se transformaram em matérias jornalísticas publicadas pelo Instituto Histórico e Geográfico de Caxias em 21/02/2014 nos 150 anos de nascimento do grande brasileiro e maranhense de Caxias, em edição especial da “Folha do IHGC”, que eu redigia e dirigia.

Neste ano de 2022, contatou-me uma vizinha da antiga casa de Coelho Netto, na rua que recebeu seu nome, no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Informou-me que a residência estava à venda e perguntou-me se eu sabia de alguém no Maranhão que poderia se interessar pela aquisição, manutenção e preservação daquele patrimônio material, histórico, cultural. Solicitei informações (valor, características e condições do imóvel, se seriam deixados móveis, objetos, livros etc. que teriam pertencido ao escritor caxiense etc.). A resposta dizia que uma bisneta de Coelho Netto seria procurada para prestar essas informações. Não mais houve resposta. De qualquer forma, por (maus) exemplos de que se tem conhecimento, dificilmente órgãos governamentais da cidade ou do estado de origem do grande escritor dariam a atenção que a proposta de venda do imóvel e, sobretudo, o próprio Coelho Netto mereceriam.

A generalizada indiferença aos talentos maranhenses é a grande marca das mentalidades pequenas que não sabem a diferença entre preço e valor, política da Cultura e cultivo da política…

O Maranhão é um estado onde até as pedras morrem…

EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br
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Administração – Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura
PALESTRAS – CURSOS – CONSULTORIA

Ilustração: Coelho Netto (desenho – bico de pena).

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