Carlos André Bogéa Pereira
Na escrita da minha história entendo tal qual Bruner e Weisser (1995, p.144), “qualquer pessoa que faça um relato sobre si mesma, utilizando-se de qualquer meio, sabe que é necessário ser mais ou menos explícita”.
Apresento então, minha vida em forma de texto, pois entendo que “pela textualização podemos ‘conhecer’ a vida de alguém” (BRUNER; WEISSER,1995, p.149). E, ainda, ao tornar-me sujeito da minha própria história, busco o elo entre mim mesmo e minha história, e compreendo que esse sujeito do qual falo “é essa figura flexível e movente a quem é dado compreender-se como autor de sua história e dele mesmo” (DELORY- MOMBERGER, 2008, p.99).
Narrar a minha vida e vê-la textualizada me possibilita uma auto formação. Eu aprendo sobre mim, reflito sobre mim e sobre o que almejo. Concordo com Delory- Momberger (2008, p.95): “o poder-saber do qual se apropria aquele que, formando a história de sua vida, forma-se a si mesmo, deve-lhe permitir agir sobre si e sobre seu ambiente, oferecendo-lhe meios para reinscrever sua história na direção e na finalidade de um projeto”.
Desse modo busco apresentar-me de forma que me conheçam como profissional, mas sem esquecer que, como Larrosa (2002), trago-lhes aquilo que me toca e o que acho interessante saber sobre mim.
Infância e os primeiros anos de escolarização
Nasci em 1971, na cidade de São Luís, capital do Maranhão, na maternidade “Marly Sarney”. Que ironia do destino! Afinal de contas, quase tudo no Maranhão tem o nome dos “Sarney”, escolas, ruas, pontes, fórum, etc. Falo da ironia, porque os meus avós da “família Bogéa” faziam há 40 anos atrás, oposição à “família Sarney”, por meio de um jornal da capital chamado “Jornal Pequeno”.
A minha infância e adolescência foram muito conturbadas, devido às dificuldades financeiras pelas quais minha mãe passou, tendo que nos criar sozinha, desde muito cedo. Por isso, quando eu era aluno da Escola Técnica (hoje IFMA), só pensava em terminar os meus estudos, o mais rápido possível, para trabalhar e então ajudá-la. Sempre gostei muito de estudar e tive destaque nos estudos algumas vezes. Porém, em outras atividades era muito tímido, calado. Hoje, acho que superei isso!
Com o tempo, e ainda no Ensino Médio, e por conta de tirar sempre boas notas, nas disciplinas de ciências, matemática e física, já sentia o desejo de ensinar outros colegas de turma, com dificuldade nessas disciplinas. Eu já queria ser professor. E isso era desde o ensino fundamental, quando o professor Ismael me encantava com suas aulas de matemática. Dominicé (2010) me fez refletir sobre a importância que um professor tem na nossa trajetória escolar, uns podem nos marcar positivamente, fazendo com que nos espelhemos neles, outros podem fazer completamente o contrário. No meu caso, o professor Ismael fez com que eu percebesse que ser professor poderia ser prazeroso. Lembro-me bem, quando neste período consegui uma pequena sala nos fundos da casa da minha avó, e comecei a estudar e ensinar meus irmãos e outros colegas nesse espaço.
Trajetória no Ensino Superior
A minha trajetória acadêmica iniciou no ano de 1991, quando prestei vestibular para o curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Maranhão e assim, obtive aprovação. Fui o primeiro de quatro filhos e o primeiro a iniciar uma faculdade, dentre os meus familiares mais próximos. Não me recordo de outros! Muitos dos meus parentes achavam que, pelas minhas condições financeiras, não pudesse chegar até onde cheguei. Lembro-me que quando passei para Licenciatura em Matemática, ouvi de alguns: – Tu tens certeza que queres ser professor? Foram tantas as pressões, com exceção da minha mãe, que acabei fazendo vestibular novamente. Desta vez, para Engenharia Elétrica. Por um período fiz os dois cursos conjuntamente. Ora aproveitava as disciplinas da Matemática para o curso de Engenharia, ora o contrário. Desta forma conclui os créditos na Engenharia e realizei inclusive o Estágio Supervisionado na área, mas não me identifiquei com a profissão.
Continuei o curso de Matemática, visto que me identificava com ele. Durante o período acadêmico, pude perceber a importância da Matemática em minha vida, onde me destaquei em disciplinas essenciais para o ensino da Matemática, tal como Didática, além das ligadas às áreas metodológicas e tecnológicas.
Embora tenha passado pelo curso sem grandes dificuldades, nesse período já percebia a sua fragilidade com relação ao ensino da matemática fora das universidades, ou seja, na escola básica. O curso se apresentou, em sua maioria, por disciplinas altamente técnicas, que, por raríssimas vezes, trataram de aspectos pedagógicos para a formação de um futuro professor.
Por esse e outros motivos não tive abertura, nem professor orientador, para desenvolver um trabalho de pesquisa monográfica que refletisse sobre o ensino da matemática, naquela época. Tive que enveredar para outra área e, sob a orientação do professor Maxwell Mariano de Barros, desenvolvi o trabalho intitulado “Isometria no Rn”, obtendo aprovação e concluindo meu curso de licenciatura em matemática.
A graduação não me foi suficiente e para me aprimorar, ingressei no curso de Especialização em Ensino de Matemática, pela Universidade Estadual Vale do Acaraú- UEVA, no ano de 2003. Neste curso, tive a oportunidade de refletir sobre os aspectos teórico-metodológicos do processo de ensino-aprendizagem da Matemática, enquanto disciplina escolar. Disciplinas como Informática na Educação e Docência do Ensino Superior me abriram as portas para os questionamentos sobre um ensino mais humanizador da matemática.
Nessa época, uma interrogação me instigava sobre o ensino da matemática: as orientações dos Referenciais Curriculares do Ensino Médio que norteavam o trabalho do professor da rede pública estadual de ensino de São Luís. Preocupado em investigar sobre como um documento pode ou não auxiliar na prática do ensino da matemática, busquei apresentar a pesquisa “Metodologia do Ensino da Matemática nos Referenciais Curriculares do Ensino Médio”, orientada pela professora Déa Nunes, que levou em consideração as minhas observações sobre a prática de professores de matemática. Utilizei para esta pesquisa de campo o ensino médio da rede estadual de ensino do Maranhão, na cidade de São Luís. Para isso apliquei um questionário aos professores de matemática da rede. Objetivei assim, perceber se a teoria contida neste documento condizia com a prática docente atual daquele momento. Infelizmente constatei que muitos documentos ficam somente nos papéis e assim, a prática fica muito distante da teoria.
Um mestrado na área de Educação ou Ensino de Matemática fazia parte de meus planos. Porém, na minha cidade (São Luís) não havia a possibilidade de oferta. Em 2006, aproveitei a oportunidade que surgiu, quando a Unicamp, por meio do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) realizou um processo seletivo destinado aos professores de nível superior das instituições públicas de São Luís (UFMA, UEMA e IFMA) para fazerem o Mestrado em Matemática Profissional, sendo essa a primeira turma de mestrado em matemática realizada também com as aulas no estado do Maranhão. Eu não era professor dessas instituições, mas me inscrevi como aluno especial, e assim ingressei. A seleção constou apenas de prova escrita, não foi preciso apresentar um projeto de pesquisa, pois este seria desenvolvido ao longo do curso. As aulas aconteciam em São Luís, e no período das férias, na Unicamp.
Durante o curso eu precisaria fazer um exame de qualificação para ingressar como aluno regular. Esse exame consistia também de uma prova escrita sobre todo o conteúdo das disciplinas por mim realizadas. Então, em 2008, fiz a prova, fui aprovado e me tornei aluno regular do mestrado.
Aprendi com meus professores estratégias e metodologias para um ensino de matemática diversificado, contextualizado e de qualidade. Dentre eles destaco o professor Simão Nicolau Stelmastchuk (que foi meu orientador) e a professora Sueli Irene Rodrigues(Coordenadora do Programa na Unicamp). Com esta, aprendi que o computador pode ser um forte aliado ao ensino da Matemática. Pude conhecer na prática projetos computacionais que orientam o aprendizado de conteúdos matemáticos na sala de aula. Mas cabe ressaltar que todos esses ensinamentos eram voltados para o ensino superior.
O meu desejo era desenvolver uma dissertação na área de Educação Matemática e o curso não apresentava uma abertura para desenvolver um tema nessa perspectiva, pois tínhamos que buscar algo relacionado às disciplinas do Ensino Superior, com foco nos conteúdos que estudamos durante o Mestrado. Então tinha que ser um tema relacionado, por exemplo, com análise real, álgebra linear ou análise numérica. Desta forma, desenvolvi uma dissertação na linha de pesquisa Matemática e Probabilidade, intitulada: “Alguns Tópicos em Probabilidade Geométrica”, defendida e aprovada no ano de 2011. Mesmo com o caráter técnico exigido na dissertação, consegui desenvolver um trabalho mais didático com recursos computacionais para o desenvolvimento de minhas aplicações, que poderiam ser utilizados em sala de aula.
Após o mestrado, frequentei outra especialização entre os anos de 2011 e 2012: Gestão Educacional, oferecido na modalidade semipresencial pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC) do Rio de Janeiro. Este curso contribuiu para o trabalho que eu desenvolvia junto às redes de ensino em São Luís, quando trabalhava com formação de professores sobre Avaliação de aprendizagem. Desenvolvi como trabalho de conclusão de Curso, a temática: “O papel do Gestor Escolar da Rede Municipal de Educação de São Luís na avaliação de aprendizagem em larga escala”. Aprendi muito sobre os direitos e deveres do gestor escolar, que trabalha numa perspectiva de gestão democrática e participativa e que via na avaliação um meio e não um fim para a aprendizagem dos alunos.
Tornando-me um Professor e Formador de Professores da Educação Básica
Segundo Bertaux (2010), não é possível compreender as ações e a produção de um sujeito, sem conhecer os grupos dos quais ele participou em algum momento. Nesse sentido, vejo a relevância de explicitar os lugares por onde trabalhei/estudei.
Logo ao entrar no curso de graduação, e já me sentindo à vontade como professor, comecei a ministrar aulas particulares (em minha casa ou na casa dos alunos) de Matemática e Ciências para alunos da Educação Básica, e de Física para alunos do Ensino Médio, em São Luís. O meu papel era ajudar os alunos a resolverem os exercícios que traziam da escola (papel não muito diferente de quem ministra aulas particulares atualmente). Em seguida, fui contratado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) para trabalhar a disciplina Matemática Comercial e Financeira para o curso de Secretariado Executivo. Era a primeira vez que me deparava com uma turma de alunos bem mais velhos do que eu e, em sua maioria, formada por trabalhadores. Acredito que por ser minha primeira experiência, eu me mostrei como um professor muito técnico. Lembro que eu só ensinava o conteúdo e ia embora, nem conversava com os alunos. Hoje vejo que eu reproduzia aquilo que me ensinaram.
No ano de 1994, após prestar seletivo para professor contratado em São Luís, comecei a trabalhar na rede estadual de Educação do Maranhão. Foi nesse período, que realmente compreendi que havia um grande distanciamento entre a teoria aprendida no Ensino Superior e a prática que deveria ser aplicada na Educação Básica. Percebi o quanto a graduação não me preparou para a sala de aula. Mas foi nesse momento também que resolvi “estudar” para ser professor. Busquei cursos, participei de formações, li textos, busquei materiais para as minhas aulas e me transformei.
Em 2002 passei nos concursos da rede municipal de Educação de São Luís e da rede estadual de São Luís, deixando de ser professor contratado. O meu trabalho em sala de aula era apreciado pelos gestores e pelos profissionais das secretarias, pois desenvolvia muitos projetos com meus alunos.
Foi a partir dessa observação que, em 2003, fui convidado para atuar junto à rede estadual de Educação de São Luís com formação e acompanhamento de professores e coordenadores. Convite também recebido no ano de 2004, pela rede municipal de Educação de São Luís. Iniciavam assim, as minhas atividades como formador.
As dificuldades foram imensas, pois de início precisei me autoformar. Só depois apareceram as oportunidades de cursos de formação para mim, enquanto, formador. Mas sempre com a necessidade de auto formação.
Na rede municipal o meu trabalho sempre esteve associado à elaboração da primeira Proposta Curricular da Rede Municipal de Educação de São Luís. Participei da escrita desse material e da formação junto aos professores de matemática. Tive formação, junto com os outros integrantes da equipe de formadores de Matemática, com as professoras Rosaura Soligo, Célia Maria Carolino Pires e Edda Curi. Aprendi sobre os documentos que norteiam a educação no Brasil e em minha cidade. Junto aos professores, o trabalho de formação acontecia ao mesmo tempo em que juntos escrevíamos esse documento. Todos os temas foram discutidos e escritos de forma conjunta, o que foi de suma importância quando o documento finalmente se finalizou, em 2008. Os professores viram que não foi um documento que chegou pronto e acabado.
Na Rede Municipal também foi o importante o trabalho que desenvolvi junto à Equipe de Avaliação. Foram quatro anos (2007-2010) de formação de professores sobre o IDEB, SAEB, Prova Brasil, Provinha Brasil e a avaliação da própria Rede. Trabalho esse que teve influência no aumento dos índices de avaliação da cidade de São Luís e reconhecimento dos professores. Encontrava colegas na rua que me paravam para discutir sobre a relevância das formações. Mas não foi um trabalho fácil, foram anos de estudos, pois desde 2003 eu participava de formação pelo MEC sobre avaliação, além de mantermos (a equipe de avaliação) um grupo de estudo com encontros semanais durante todo o período das formações.
Na rede estadual, como formador, estive à frente da formação de professores em rede na região metropolitana de São Luís. O trabalho se diferenciava da rede municipal devido ao público, pois agora envolvia os coordenadores e, principalmente, os gestores. Pude perceber que uma das grandes dificuldades que a educação enfrenta é a relação entre gestão e professores. Enquanto não houver uma parceria entre ambos e a consciência de quem atua para o mesmo fim (a aprendizagem dos alunos), o trabalho na escola não fluirá. Então, o meu trabalho sempre buscava fazer esse elo, sempre era pensado no bom relacionamento na escola. Em 2011, também coordenei o grupo da Dimensão 2/Ação 2, responsável pela elaboração da Proposta de Formação Continuada dos Profissionais da Educação Básica da SEDUC-MA/PNUD. Nesse momento nós pesquisamos e discutimos sobre as formações continuadas dos profissionais da Educação que foram desenvolvidas até então no Estado do Maranhão. Eu, como coordenador do grupo, percebi a fragmentação e fragilidade que existiam nas formações do meu Estado, pois em cada nível de ensino havia uma formação específica, teorias diferentes, trabalhos diferentes, não havia assim, unidade. Acredito que essa quebra fragilize a formação como um todo, pois as partes não se relacionavam. O meu desafio foi compor uma linha de trabalho unificada, que foi evidenciada na elaboração da Proposta. Apresentamos uma proposta prévia no final de 2012, momento em que tive que me afastar por conta dos estudos do doutorado. Já no doutorado no estado de São Paulo, nos anos de 2016 e 2017, antes de retornar para o Maranhão, fui convidado para implementar um projeto de formação continuada para os professores na rede municipal de Campinas -SP. Foi um período de grande aprendizado, pois a nossa pequena equipe de formadores de matemática, formada por três doutorandos e uma doutora, teve a incumbência de criar, planejar e executar toda uma formação para um grupo de professores que ensinavam matemática no ensino fundamental, das escolas da rede municipal de Campinas, com o objetivo de melhorar a prática pedagógica desses professores e consequentemente as aprendizagens dos alunos. Ao retornar, em 2017, para o Maranhão, continuei também trabalhando como palestrante e formador de professores, em diversas formações continuadas de professores que ensinam matemática, nas redes municipais de ensino, como a dos municípios de: São Luís, Paço do Lumiar, São José de Ribamar, Raposa, Cedral, Turiaçú, Cururupú, Arame, Anajatuba, Miranda, Porção de Pedras, Belágua, Itapecuru, etc… Muitas dessas palestras, formações e encontros foram desenvolvidos por intermédio da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM) – Regional do Maranhão, sociedade essa, que fundamos em 2020, aqui no Maranhão, e outras solicitadas pelos próprios municípios do Maranhão, com o objetivo da melhoria do processo ensino e aprendizagem no nosso Estado. Cabe ressaltar aqui, que muitos desses momentos foram proporcionados com os nossos próprios recursos (da equipe diretiva da SBEM-MA), para divulgar e melhorar o ensino de matemática no nosso Estado.
Tornando-me um professor no Ensino Superior
O início da minha trajetória profissional no Ensino Superior no Estado do Maranhão. Começava a minha experiência com a formação inicial de professores. As minhas primeiras experiências foram como professor contratado. Trabalhei na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, no ano de 2008; no Instituto de Estudos Superiores do Maranhão – IESMA, no período 2008-2009, uma instituição privada; na Universidade Federal do Maranhão, em 2011; no Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA, em 2012; na Faculdade Santa Fé, no período 2012-2013; em 2014 tive a
oportunidade de trabalhar, durante a realização do doutorado em São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas – São Paulo, com as disciplinas de Matemática A e B, no Curso de Pedagogia, no Projeto PARFOR1.; ainda no estado de São Paulo, trabalhei na Universidade São Francisco, no Programa de Formação Geral – PED – Docência Integral; e numa Pós-graduação em Ensino de Matemática na Faculdade de Jaguariúna; iniciei em 2018 na Pós-graduação da Faculdade Laboro, onde permaneço até os dias atuais; e em 2023 fui nomeado para o quadro de professores efetivos, como professor adjunto de matemática no município de Pedreiras – MA.
Em todas essas instituições, ministrei disciplinas não só na área de matemática, mas também na área de educação. O meu desafio foi tentar aproximar universidade e escolas. Não queria que os meus alunos tivessem as minhas mesmas dificuldades em relação à formação inicial. Busquei levar estratégias, metodologias, sempre pensando no que eles poderiam fazer quando já estivessem em sala de aula.
A minha experiência não se resume a essas citadas, mas considero que cada uma ajudou em minha formação. Delory-Momberger (2008, p.90) afirma que nós sabemos “que a ação é formadora, que a experiência cria o saber”. Então, acredito que em cada projeto que trabalhei como formador ou em cada sala de aula que atuei como professor, eu não só ensinei, eu também aprendi com minhas experiências.
O ingresso no doutorado em Educação
O desejo de aperfeiçoar meus conhecimentos na área de formação de professores foi crescendo à medida que eu desenvolvia meus trabalhos profissionais. Eu sentia a necessidade de estudar mais, conhecer mais. Decidi que era a hora de investir em meus estudos na área que eu realmente almejava.
Foi assim que, no ano de 2013, tive a oportunidade de ingressar no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação oferecido pela Universidade São Francisco, em Itatiba-SP, onde cursei no primeiro semestre a disciplina “Narrativas, História Oral e Educação Matemática”, ministrada pela Profª Adair Mendes Nacarato, e, no segundo semestre, a disciplina “O Trabalho Docente: teorias e análises de práticas educativas”, ministrada pelas professoras Adair Mendes Nacarato e Luzia Bueno. Disciplinas que foram muito importantes para a minha pesquisa, principalmente a disciplina de Narrativas e História Oral, que fez com que eu tivesse um outro olhar para essa área, e um interesse em desenvolver a minha tese usando as entrevistas narrativas e suas teorias. Com o projeto: “Como nos tornamos formadores de professores: processo de constituição profissional”, sob a orientação da profª Drª Adair Mendes Nacarato, fui contemplado com bolsa Capes, no mês de outubro do mesmo ano. O intuito da minha pesquisa era refletir sobre a constituição profissional dos formadores de professores, possibilitando compreender e viver o processo de formação através da singularidade das histórias de vida e das aprendizagens experienciais sobre a docência. Busco resgatar o ser formador de professores, com foco específico na formação continuada de uma rede de ensino.
Ainda no mesmo ano, frequentei, as seguintes disciplinas: “Tópicos Especiais I: Pesquisa em práticas escolares”; “Seminários Avançados de Pesquisa”; “Pesquisas em Formação de Professores”, que foram me proporcionando momentos de aprendizagem enquanto aluno, professor e pesquisador, a partir do momento que refleti sobre as situações típicas de sala de aula e sobre o percurso do meu projeto. Porém, destaco que a disciplina “Pesquisas em Formação de Professores”, ministrada pelas professoras Adair Nacarato e Regina Célia Grando, realizada no segundo semestre, fortaleceu o meu conhecimento e despertou mais ainda a minha curiosidade pela temática Formação de Professores, pois tive a oportunidade de refletir e discutir junto com meus colegas sobre a constituição da profissão docente e sobre as pesquisas no campo da formação docente, em especial, aquelas que se referem à história de vida de professores.
Ao mesmo tempo em que frequentava as aulas, passei a participar dos encontros do grupo de estudo “História de formação de professores que ensinam matemática”- HIFOPEM. Nas minhas primeiras leituras, pude perceber a narrativa enquanto fenômeno, e posteriormente, aprofundei-me nas leituras sobre pesquisas narrativas. Por meio deste grupo pude conhecer, refletir e estudar mais sobre narrativas (auto)biográficas de professores, narrativas de formação e histórias de formação docente, todos esses temas estavam envolvidos no meu projeto de pesquisa.
Destaco ainda que frequentei, em 2013 e 2014, como aluno especial, as disciplinas de Escalas; Tópicos Especiais para o ensino de Matemática; e, Produção de Recursos e Materiais didáticos para o ensino de Ciências e Matemática, oferecidas pelo Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática da Unicamp. Com essas disciplinas aperfeiçoei meus conhecimentos sobre a prática docente do professor de matemática.
Durante o curso de Doutorado, também participei de diversos eventos, e em muitos com apresentação de comunicação oral. Em algumas tive a oportunidade de já ir apresentando o trabalho sobre a minha tese2.
Certo dia, durante uma das aulas ministrada pela professora Adair, ela me perguntou: você estaria disposto a disputar uma vaga para realização de um doutorado sanduíche em Portugal? Fiquei surpreso, mas rapidamente respondi que sim. E acabei sendo um dos selecionados pela Universidade São Francisco para esse desafio, de realizar o doutorado sanduíche, no segundo semestre de 2015, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa em Portugal, sob a coorientação da professora Margarida Rodrigues. Nunca imaginaria que um dia iria conseguir estudar em Portugal. Foram 6 (seis) meses muito intensos de atividades, mas com muito prazer. Foi uma oportunidade única, e financiada pela CAPES.
Após a minha chegada em Lisboa-Portugal no dia 13 de setembro de 2015, entrei em contato e apresentei-me à minha coorientadora a profa. Margarida Rodrigues, na Escola Superior de Educação de Lisboa – ESEL. Muito gentil e educada, deu-me as orientações iniciais, mostrou-me as instalações físicas do prédio da ESEL, como: espaço de estudo, biblioteca, coordenação, laboratório de informática, etc. Apresentou-me também, alguns dos seus colegas professores da instituição e providenciou o acesso a computadores, empréstimo na biblioteca e rede, mostrou-me o armário onde guardavam e disponibilizou-me os acervos bibliográficos dos docentes da Educação e Educação Matemática.
Já sabendo das minhas atividades e obrigações para com a professora junto à ESEL e à Universidade de Lisboa, e após combinarmos consensualmente, resolvi ficar instalado no Porto. Organizei-me para os estudos e realização do trabalho conjunto com a professora Margarida. Procurei os encontros, simpósios e congressos, primeiramente os sugeridos pela professora, na ESEL, na Universidade de Lisboa, e demais universidade em Portugal, que interessasse para o meu desenvolvimento intelectual, na área da educação.
Logo nos primeiros dias tive a oportunidade de conhecer a Profa. Lurdes Serrazina, que muito gentilmente se disponibilizou para marcarmos momentos de conversa. Falamos sobre nossas pesquisas com relação a formação de professores. Assim conheci o Programa de Formação Contínua em Matemática-PFCM que foi realizado durante o período de 2005 a 2011. A professora explicou-me que, na verdade, foi um programa a nível nacional, que teve êxito. Fiquei curioso! Fiz algumas perguntas sobre os formadores, e ela sugeriu que eu conversasse pessoalmente ou entrevistasse alguns deles. Saí dessa reunião com vontade de conhecer mais sobre essa formação.
Posteriormente, e já com as indicações e sugestões da professora Serrazina e após discutir com a professora Margarida, combinamos que eu iria conhecer mais sobre esse Programa, o PFCM, por meio de algumas dessas formadoras. Cabe ressaltar que essa formação não estava em continuidade por questões políticas. Conheci as formadoras: a profa Dra. Cecília Monteiro da ESEL e Universidade Nova de Lisboa, profa. Isabel do Vale da ESE de Viana do Castelo, profa. Graciosa Veloso da ESE de Lisboa, além de quatro professoras das escolas do 1º ciclo que também foram formadoras do Programa. No caso destas, fiz uma pequena entrevista sobre a visão delas com relação ao Programa. Quanto mais mexia com essas formadoras, mais me lembrava da minha pesquisa no Brasil.
Em outros momentos, quando não estava pesquisando sobre o PFCM, estava participando dos eventos e cursos que aconteciam nas diversas universidades de Portugal e na Europa, todos na área educacional.
Muitos destes eventos foram de grande importância para o desenvolvimento da tese que estou trabalhando no Brasil sob a orientação da profa. Adair Nacarato, como por exemplo, a apresentação do prof. Dario Fiorentini sobre “Formação de Professores que Ensinam Matemática na Educação Básica e Secundária”, que aconteceu na Universidade de Coimbra. Também destaco o seminário apresentado pelo prof. João Pedro da Ponte sobre “Estudos de Aula na Formação de Professores (Lesson study)”.
Posso dizer que participei de muitos eventos durante esse período do Doutorado Sanduíche em Portugal, os quais me fortaleceram e me deram uma melhor visão, uma visão global dos trabalhos desenvolvidos na área da Educação e da Educação Matemática3.
Todo o meu processo de aprendizagem e desenvolvimento humano e científico a partir das disciplinas e cursos dos quais participei, tanto os de formação inicial quanto os de formação continuada, quanto os que realizei no Mestrado, Doutorado e Doutorado Sanduíche, e como professor de Matemática e Física ao longo da minha trajetória profissional, fizeram-me compreender a formação como “um movimento constante e contínuo de construção e reconstrução da aprendizagem pessoal e profissional, envolvendo saberes, experiências e práticas (SOUZA, 2010, p.158)”. Por isso, estou em constante aprendizagem. E assim, considero-me apenas mais um professor que segue se formando ao longo da vida. Nesse sentido, me coloco a disposição para participação como membro colaborador na Academia Maranhense de Ciências, principalmente nas contribuições das áreas da Matemática, Ciências e Educação Matemática.